Isso já deve ser a 3ª vez que eu ouço de reconstrução/reconstituição do PCB. Esta pauta é defendida por pelo menos 4 organizações diferentes. Não parece que nenhuma avança nisso de fato
Todo partido comunista passa por processos de disputa, o PCB cresceu bastante de 2019 a 2022, e o Comitê Central começou a caducar diante dos novos quadros formados pela UJC. A UJC em si passou a ser muito mais organizada que o próprio Partido com o tempo, mostrando como o PCB sofria por métodos artesanais. A linha do Partido sempre cai à direita conforme há uma cristalização de quadros, que é o caso do PCB.
Não é a isso que eu me refiro e tampouco é a isso que o Jones se refere quando ele fala da “continuação da reconstrução revolucionária do PCB” isso é uma pauta muito mais antiga do que as recentes disputas no PC Brasileiro. Pode-se dizer que isso de “reconstrução/reconstituição” começou desde o primeiro grande racha do partido, que deu no PCdB, porque a verdade é que o PCB não é mais O “partidão” desde essa época, devido a massiva perda de quadros e de organização junto às massas. Essa ideia parte da realidade que o partido foi majoritariamente liquidado durante os anos 60 e 70 e existe portanto uma necessidade de reconstruir o partido, ou seja, tornar o PCB, que originalmente chamava-se Partido Comunista do Brasil, novamente no partido da classe operária brasileira. Essa pauta surgiu formalmente nos anos 90, e em maior e menor grau é defendida por cada uma das organizações marxistas-leninistas atuais -principalmente, pelo PCB, pelo PCB-FV (maoísta) e pela URC - com cada uma delas brigando por quem vai liderar este processo. O que eu disse no outro comentário foi simplesmente que nenhuma parece ter feito progresso nenhum nisso, de fato, aumentaram seus contingentes, mais parece que a quantidade de gente nas organizações é cíclica, também teve um aumento considerável em 2013 seguido de um a diminuição considerável, e não há por que pensar que isso será diferente nesse recente aumento.
Bem pelo que entendi, então, só esses partidos maoistas ultra-sectários, menores que o próprio PCB que já é minúsculo, é que são a verdadeira reconstrução comunista?
Olha, eu não desmereço as iniciativas desses grupos. O trabalho editorial e de publicação de livros da Nova Cultura é uma iniciativa interessante, que começou com preços bem baratos (eventualmente ficando mais caros com o tempo). O trabalho editorial é simples, nada muito robusto, mas bem organizado, nunca tive problemas com entregas ou coisas do tipo e já pedi vários livros. Os esforços da URC nesse quesito são memoráveis, mostrando como até com poucos militantes é possível fazer um trabalho editorial relativamente bom.
Mas fora essa iniciativa, a URC é completamente irrelevante no cenário político atual. Menos relevante ainda que PCB e UP. O dogmatismo maoista jamais chegará nas massas brasileiras, essa exaltação e culto a Gonzalo e Mao não dialoga com os problemas imediatos do nosso povo. Mas agora sabemos porque o PCB não chega nas massas, por conta de uma direção que distorce o centralismo democrático, sabota iniciativas e impede a verdadeira capilarização do partido na classe.
Tanto Mao Zedong quanto Lênin encararam tendências oportunistas dentro de suas organizações. Isso é um processo natural, manifestação luta de classes no seio do partido. O Partido Operário Social-Democrata Russo, partido que Lênin disputou no século 20, rachou-se em facções internas em 1903 depois que a direção do partido ativamente sabotou as decisões do Congresso. O PCB passa por uma situação semelhante agora. O Partido mudou bastante ao longo de sua história, passando por diversos processos de disputas contra linhas oportunistas, tendo um misto de vitórias e derrotas. O que estamos vendo agora é mais um novo processo de luta contra o oportunismo, cujo resultado só poderemos analisar no futuro.
Bem pelo que entendi, então, só esses partidos maoistas ultra-sectários, menores que o próprio PCB que já é minúsculo, é que são a verdadeira reconstrução comunista?
Não cara pelo amor de Deus, eu não apontei que nenhum deles é a “verdadeira reconstrução comunista”: nem o PCBrasileiro (eu chamo assim o partido pra facilitar a identificação, evitando ambiguidade), nem os maoístas. Na verdade, eu não opinei sobre o assunto, eu simplesmente mencionei que essa é uma pauta antiga defendida por mais de uma organização.
Agora, dando minha sincera opinião, eu não acho que nenhuma dessas organizações pode ser chamada de “verdadeira reconstrução comunista” porque isso é uma coisa que só vai dá pra saber em retrospecto quando o PCB de fato estiver reconstruído. O que eu sei é que nenhum dos avanços de nenhuma dessas organizações pode ser usado para afirmar com toda certeza que esta ou aquela organização é responsável pela derradeira reconstrução, porque todos esses avanços são ínfimos perto do que é verdadeiramente necessário para reconstruir o partido.
Sem entrar no mérito teórico da linha de cada um, observando a natureza prática de cada uma das organizações, pode-se dizer algumas coisas, são elas:
· O PCBrasileiro é, de longe, a organização com maior contingente, e que possui também um excelente trabalho editorial, no entanto, sofre de problemas organizacionais profundos, que culminaram na presente ameaça de liquidação. Além disso, o estudo de teoria e prática militar é pífio pra não dizer inexistente dentro das fileiras do partido.
· A URC destaca-se somente pelo trabalho editorial, que é fundamental. É uma organização muito pequena em contingente de militantes e que apesar disso sofreu com pelo menos dois rachas no tempo recente, talvez devido ao sectarismo. Também possui pouco ou nenhum trabalho junto as massas.
· O PCB-FV é uma organização ultra-sectária. Contudo, existe pelo menos algum grau de estudo e prática de teoria militar, arrisco dizer, que mais do que qualquer outro, mesmo que esteja muito longe do necessário. Isso se sustenta no episódio em que os camponeses da LCP peitaram mais de 3 mil militares do governo Bolsonaro.
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O dogmatismo maoista jamais chegará nas massas brasileiras, essa exaltação e culto a Gonzalo e Mao não dialoga com os problemas imediatos do nosso povo.
Concordo absolutamente com você. É triste ver que a organização marxista de maior compreensão da questão militar é liderada por uma dúzia de malucos que ficam imitando sotaque chinês e gritando “PE RU PE RU”
Isso se sustenta no episódio em que os camponeses da LCP peitaram mais de 3 mil militares do governo Bolsonaro.
Sei que tiveram alguns confrontos com a LCP em algumas ocasiões, mas 3 mil militares? Tem alguma fonte pra aprofundar nessa informação? Quanto ao PCB-FV, eu vejo a mesma situação do maoismo brasileiro, notoriamente composto pela pequena-burguesia, mas que se apoia moralmente na LCP. Muitas organizações maoistas tem pouco ou nenhum vínculo com a LCP, exceto ideologicamente. Já vi muito maoista pequeno-burguês, urbano, usando as atividades da LCP para dar um ar revolucionário a si, mas com pouca militância exceto no Twitter. Hoje em dia tá até bem menos comparado com uns 2 anos atrás.
Fora essa caricatura que infelizmente serve a todas organizações maoistas brasileiras atualmente, não conheço mais sobre o PCB-FV. Não sei sobre a apropriação da teoria militar por essa organização, mas que utilidade tem esse conhecimento se a organização tem no máximo uma centena de militantes em todos o país?
